25.11.10

ΓΡΗΓΟΡΑ ΠΕΡΑΣΕΝ Η ΩΡΑ

Dimitris Yeros (Grécia)

Desde as nove

Meia-noite e meia. Rapidamente passam as horas
desde as nove em que acendi o candeeiro,
e aqui me sentei. Estava sentado sem ler,
e sem falar. Falar com quem
totalmente só nesta casa.

O simulacro do meu corpo novo,
desde as nove em que acendi o candeeiro,
veio e encontrou-me e lembrou-me
fechados quartos com aromas,
e prazer passado - que prazer valente!
E trouxe-me também diante dos olhos,
ruas que se tornaram agora irreconhecíveis,
sítios cheios de movimento que findaram,
e teatros e cafés e era uma vez que o tempo tem.

O simulacro do meu corpo novo
veio e trouxe-me as tristezas também;
lutos de família, afastamentos,
sentimentos de gente minha, sentimentos
tão pouco apreciados dos mortos.

Meia-noite e meia. Como passam as horas.
Meia-noite e meia. Como passam os anos.

Konstandinos Kavafis /Grécia
Konstandinos Kavafis: Poemas e Prosas (Relógio d'Água, 2005)
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis


Círios

Os dias do futuro se erguem à nossa frente
como círios acesos, em fileira -
círios dourados, cálidos e vivos.
Os dias idos ficaram para trás,
triste fila de círios apagados;
os mais próximos ainda fumaceiam,
círios pensos e frios e derretidos.
Não quero vê-los, que me aflige o seu aspecto.
Aflige-me lembrar a sua luz de outrora.
Contemplo, adiante, os meus círios acesos.
Não quero olhar para trás e, trêmulo, notar
como se alonga depressa a fileira sombria,
como crescem depressa os círios apagados.

Konstantinos Kavafis /Grécia
Konstantinos Kaváfis: Poemas (RJ, Nova Fronteira, 1990)
Trad. de José Paulo Paes

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Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
(...)
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
(...)
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
(…)

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

10.11.10

ΤΑ ΚΡΥΜΜΕΝΑ

Lukás Samarás (Grécia)

Segredos

De tudo o que fiz de tudo o que dissse
não procurem descobrir quem fui.
Havia uma barreira que transformava
minhas ações e meu modo de vida.
Havia uma barreira que me parava
nas muitas vezes em que ia contar.
Das minhas ações mais insignificantes
e meus escritos mais velados-
só de lá me sentirão.
Mas quiçá não valha à pena gastar
tanto cuidado e tanto esforço para me conheceram.
No futuro –numa sociedade mais perfeita-
algum outro talhado como eu
decerto aparecerá e livremente fará.

Konstantinos Kavafis (Grécia)
Tradução: R. M. Sulis, M. P. V. Jolkesky, A. T. Nicolacópulos

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Yet will our presence, like eternal Morn,
Ever return at Beauty's hour, and shine
Out of the East of Love, in light to enshrine
New gods to come, the lacking world to adorn.

Contudo irá nossa presença, como eterna Aurora
Sempre retornar à hora da beleza, e brilhar
Do Oriente do Amor, e em luz ensagrará
Novos deuses a vir, que o falho mundo adornem.

Fernando Pessoa : Antinous (1915)

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